Parque Natural de Sintra-Cascais
Tem cerca de 14 580 ha e localiza-se no distrito de Lisboa, estendendo-se por territórios dos concelhos de Sintra e de Cascais. A paisagem é marcada pelo relevo da Serra de Sintra, em torno do qual se desenvolve um planalto litoral complexo que a rodeia completamente. O clima é temperado mediterrâneo, de tipo oceânico, com influência atlântica. A forma da serra de Sintra é uma barreira de condensação, mantendo sempre elevados valores de humidade, dando lugar ao característico capacete de nuvens. A diversidade climática, geológica e consequente riqueza dos solos permitem uma grande diversidade de flora mediterrânica, ocidental-mediterrânica, atlântica e macaronésica, estando assinaladas cerca de 900 espécies de flora autóctone, em que cerca de 10 % são endemismos. Na Serra de Sintra destacam-se espécies ameaçadas como o azevinho Ilex aquifolium ou espécies-relíquia como o feto-dos carvalhos Davallia canariensis, o feto-de-folha-de-hera Asplenium hemionitis ou o samouco Myrica faia, encontrando-se também representadas quase todas as espécies de Quercus existentes em Portugal. Próximo das linhas de água vivem freixos, amieiros, aveleiras, salgueiros e ulmeiros. Musgos, líquenes e cogumelos também lá encontram um habitat privilegiado. A faixa costeira tem um elenco florístico muito variado e reúne uma grande diversidade de habitats. São consideradas áreas prioritárias para a conservação, aquelas onde se encontra o miosótis-das-praias Omphalodes kuzinskyanae. No cabo da Roca ocorrem alguns dos maiores núcleos de cravo-romano Armeria pseudarmeria, de cravo-de-sintra Dianthus cintranus cintranus e de saramago-de-sintra Coyncia cintrana sendo, por isso, considerada área de elevado interesse de conservação. As zonas do litoral no cabo Raso e a norte do Magoito apresentam também a mesma classificação por aí se verificarem alguns núcleos de Herniaria maritima, Limonium dodartii lusitanicum e uma grande área de ocorrência de verbasco-de-flores-grossas Verbascum litigiosum. O Juncus valvatus, endemismo de Portugal, é abundante na zona norte do parque. A grande heterogeneidade do Parque permite que nele ocorram habitats prioritários para a conservação – dunas fixas com vegetação herbácea “dunas cinzentas”, dunas litorais com Juniperus spp., dunas com florestas de Pinus pinea e/ou Pinus pinaster –, habitats considerados especiais para a conservação – arribas com vegetação das costas mediterrânicas com Limonium spp. endémicas, dunas móveis embrionárias, dunas móveis do cordão litoral com Ammophila arenaria “dunas brancas”, dunas com vegetação esclerófila da Cisto-Lavenduletalia, cursos de água mediterrânicos permanentes da Paspalo-Agrostidion com cortinas arbóreas ribeirinhas de Salix e Populus alba, cursos de água mediterrânicos intermitentes da Paspalo-Agrostidion, matagais arborescentes de Juniperus spp., vertentes rochosas com vegetação casmofítica, grutas marinhas submersas ou semissubmersas, carvalhais galaico portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica, carvalhais ibéricos de Quercus faginea e Quercus canariensis, florestas de Quercus suber. Tal diversidade de habitats permite ainda uma grande diversidade faunística, sendo mais de 200 as espécies de vertebrados, já identificadas: 33 de mamíferos, 160 de aves, 12 de anfíbios, 20 de répteis e 9 de peixes de água doce. A área protegida encerra ainda valores faunísticos de grande interesse de conservação, designadamente a boga-portuguesa Iberochondrostoma lusitanicum, a fritilária-dos-pântanos Euphydryas aurinia, a víbora-cornuda Vipera latastei e a águia-de-Bonelli Aquila fasciata. A extensa linha de arribas costeiras permite a ocorrência de avifauna de nidificação ripícola, incluindo espécies com estatuto de ameaça em Portugal, tal como o falcão-peregrino Falco peregrinus, o bufo-real Bubo bubo ou espécies pouco numerosas no nosso país como o corvo-marinho-de-crista Phalacrocorax aristotelis ou o melro-azul Monticola solitarius. Das aves, 67 são nidificantes e 23 apresentam estatuto de ameaça em Portugal. A existência de algumas grutas e minas de água, não exploradas pelo turismo, permite a presença de espécies de morcegos cavernícolas, algumas das quais apresentam estatuto de ameaça de “Criticamente em perigo” em Portugal, como o morcego-de-ferradura-mediterrânico Rhinolophus euryale e ”Vulnerável”, como o morcego-de-ferradura-pequeno Rhinolophus hipposideros. De relevar ainda a existência de um crustáceo endémico da Gruta da Assafora, Prosaellus assaforensis, descrito para a ciência em data relativamente recente. O maciço eruptivo de Sintra apresenta características de ilha biogeográfica, fenómeno resultante da existência de um bioclima distinto da plataforma sedimentar enquadrante, e tal como acontece com a flora, este facto poderá explicar uma grande riqueza de anfíbios e répteis.
Adaptado do ICNF | Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P.
Disponível no portal do ICNF, I. P. em:
https://www.icnf.pt/conservacao/areasprotegidas/parquenaturalsintracascais